Imagino que quem acompanha aqui percebeu que eu praticamente não apareci esse ano. Muito estresse e questões de saúde, muita crise em certas esferas da vida pessoal, a profissional eu vou nem falar… Mas não ter vindo aqui não quer dizer que eu não li. Inclusive, acho que dos últimos 10 anos, esse foi o que mais me afundei na leitura.
Ler é um hábito maravilhoso. Não tão usual em nossa cultura, infelizmente, mas é poderoso e deve ser fomentado. Mas esse ano eu usei a leitura como rota de fuga da realidade, e fiz isso com força.
Depois do meu burnout, em maio, e da licença de saúde, em junho, eu tive que tomar remedinho e fazer acompanhamento psiquiátrico (o que foi ótimo, recomendo, não fujam disso se vocês precisam). E minha vontade de ler, que estava no pé, voltou, assim como minha capacidade de me concentrar.
“Ah, mas que bom, Paulla. Qual é o problema disso?” O problema foi que eu afundei na leitura como forma de me distrair da própria realidade, e não foi de um jeito bom. Passei a ler em detrimento de várias outras atividades, como lavar a louça, manter a casa habitável, e até cozinhar para mim. Dias sem jantar porque não queria largar o livro que estava em mãos, emendando um no outro, começando e terminando séries enormes. O ápice foi quando li, nas férias, dois livros em dois dias. Detalhe: um de 850 e outro de 950 páginas. É perceptível que eu SÓ li nesses dias, e jantei pipoca para não ter que parar e cozinhar.
Ler sempre foi meu refúgio, onde meu cérebro desliga e para de pensar nos problemas; onde eu vivo outras vidas, sinto outras emoções. E eu simplesmente fugi para as páginas e não lidei com minha realidade. Segundo minha planilha, estou em cerca de 48 mil páginas lidas só em 2022. Tem noção do que é isso? 48 MIL PÁGINAS?
Não falo isso com orgulho. Ocasionalmente desligar tudo e afundar num bom livro é um espetáculo; mas fazer isso diariamente, por meses? Qualquer coisa que atrapalhe sua vida é um problema. No caso, a leitura virou vício no sentido mais negativo do termo, e eu ainda estou lidando com ele. Resistindo à tentação de começar e acabar livros no mesmo dia, de enfiar na minha cabeça “e daí que não fiz a yoga hoje, não consigo largar isso aqui!”
Todo remédio, na dose errada, vira veneno. Eu nunca achei que ia lidar com isso, e aqui estou, tentando realocar a leitura na esfera de importância dela em minha vida – que é enorme, mas não pode ocupar todos os espaços.
Como eu tenho lido muito no Kindle nem consigo ter ideia de quantas páginas li no ano.
Certo que não cheguei nem perto do seu número mas tenho feito bonito ultimamente…
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