Mão segurando o livro Necropolítica, de Achille Mbembe, perto de várias plantas

Necropolítica, Achille Mbembe

Título: Necropolítica (Necropolitics)

Autor: Achille Mbembe, Camarões

Editora: N-1 Edições

Ano: 2018 (1ª ed. 2003)

Páginas: 80 p.

Formato: Físico

Sinopse: Neste ensaio, propus que as formas contemporâneas que subjugam a vida ao poder da morte (necropolítica) reconfiguram profundamente as relações entre resistência, sacrifício e terror. Tentei demonstrar que a noção de biopoder é insuficiente para dar conta das formas contemporâneas de submissão da vida ao poder da morte. Além disso, propus a noção de necropolítica e de necropoder para dar conta das várias maneiras pelas quais, em nosso mundo contemporâneo, as armas de fogo são dispostas com o objetivo de provocar a destruição máxima de pessoas e criar “mundos de morte”, formas únicas e novas de existência social, nas quais vastas populações são submetidas a condições de vida que lhes conferem o estatuto de “mortos-vivos”. Sublinhei igualmente algumas das topografias recalcadas de crueldade (plantation e colônia, em particular) e sugeri que o necropoder embaralha as fronteiras entre resistência e suicídio, sacrifício e redenção, mártir e liberdade.

Opinião: SPOILER: ESSE LIVRO DÓI. De várias formas.

Você pega um livrinho de pequeno formato (ele é A6, praticamente), e só com 80 páginas e pensa “ok, dou conta hoje”. Olha, eu comecei a ler esse livro em outubro/2020 e só terminei ele agora, em março de 2021. Mesmo as pessoas com algum conhecimento e leitoras vorazes que eu conheço, falaram do quão pesada é a linguagem desse livrinho. Explicação: esse foi um ensaio científico, publicado em revistas acadêmicas. Não é um livro de literatura geral feito para explicar um conceito. Dito isso, se você quiser mesmo ler, se prepare para o peso da coisa.

É um livro muito, muito, MUITO importante. Tive vários insights e muitos “ahhhhh, mas isso devia ser óbvio!”. Mas eu senti o mesmo empuxo mental de quando lia Bourdieu e Deleuze & Guattari para o mestrado. Algumas frases tão curtas, mas com tantas camadas de significado, ou com conceitos tão complexos por trás que tive que reler não uma ou duas vezes, mas diversas.

Mas afinal de que Mbembe fala nesse livro? Vou tentar ser sucinta: ele explica os conceitos de biopoder, biopolítica e necropolítica, unindo e exemplificando desde sua construção social e histórica até a representação disso nos dias de hoje.

“Ain Paulla, mas pq isso é importante?” Porque isso é o que vivemos hoje. Uma política de estado que decide quem morre e como morremos (o presidente dizendo que chorar as mortes é “mimimi”, te é familiar?); que segrega racialmente e culpa e oprime, com raízes em colonização, que faz ser mais “aceitável” certa parcela da população morrer. Reconheceu alguma parte disso? Se não reconheceu, procure sobre – e se não se importa, você tá no blog errado, desculpa dizer.

Por sua vez, a generalização da insegurança aprofundou a distinção social entre aqueles que têm armas e os que não têm (…) Cada vez mais, a guerra não ocorre entre exércitos de dois Estados soberanos. Ela é travada por grupos armados que agem por trás da máscara do Estado contra os grupos armados que não têm Estado(…)

p. 59-60 – qualquer semelhança com milícias, facções e a guerra com a polícia não é mera coincidência

Mbembe começa explicando como fomentamos a sensação de inimizade entre partes (incluindo aqui racismo, xenofobia e outras fobias contra seres humanos), e como isso pode ser manejado pelo poder de forma a dividir a civilização e trazer o terror – e quem se beneficia com isso. O que é soberania e “direito de fazer guerra” – e contra quem, e a violência como motor institucional.

É importante nos apossarmos das explicações acadêmicas sobre o assunto, para entender nossa política e entender as bases do que precisamos lutar contra. Mas como disse, não é um livro fácil. Se você já estuda um pouquinho o assunto, consegue visualizar perfeitamente a concatenação desse pensamento com outras obras, como base de políticas nacionais, e em outros livros publicados sobre racialização, racismo e colonialismo no país.

E se você quiser absorver esse conteúdo, mas não se entende bem com linguagem acadêmica (ou não se interessa), você pode procurar no Youtube explicação sobre Necropolítica – tem muitos vídeos bons de pensadores do mundo de hoje (acho que a editora Boitempo tem uns, inclusive). Ou livros mais explicativos, que abordam o assunto com linguagem mais acessível – recomendo muitíssimo o De bala em Prosa, da Editora Elefante, que tá de graça em pdf, inclusive; e o Discurso sobre o colonialismo do Aimé Césaire, que tem resenha aqui já.

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