Título: A noite devorou o mundo (La nuit a dévoré le monde)
Autor: Pit Agarmen
Editora: Rocco
Páginas: [s.p.] recurso eletrônico (+- 95 folhas A4 em pdf)
Ano: 2014 (1.ed. 2012)
Formato da leitura: Livro digital
Sinopse: A humanidade estava em decadência e a extinção era apenas uma questão de tempo. Mas a natureza não quis esperar. Uma epidemia atacou os seres humanos e os transformou em criaturas demoníacas, famintas, com predileção pela carne humana. No mundo inteiro, as pessoas estão se transformando em zumbis. Antoine Verney é um sobrevivente e o anti-herói por excelência do livro de Pit Agarmen. No livro, Antoine desperta de uma bebedeira em um apartamento vazio, com um morto na sala e sinais de luta pelos aposentos. Por mero acaso, seu porre memorável e a capacidade de não se fazer notar salvou sua vida. Ele não fica tão surpreso assim. Afinal, há muito tempo que a humanidade atingiu o último estágio da decadência, da selvageria e da crueldade. Enquanto os zumbis lotam as ruas de Paris, Antoine pensa estar seguro em um luxuoso apartamento com vista para Montmartre. Assim como um Robinson Crusoe moderno, Antoine aprende a sobreviver e a enfrentar a solidão. O estigma de ser o último ser humano paira sobre sua cabeça, e a dor e o pânico de uma vida inútil ameaçam a sua lucidez. Armado com um rifle, ele se surpreende ao descobrir que pode matar e que ainda possui talento para isso. E é nesta descoberta e na invenção de uma nova vida que encontra forças para não enlouquecer e seguir adiante.
Opinião: Livro de zumbi.
Eu meio que cansei de livros de zumbi, melhor deixar claro. Li o Menina que tinha dons esse ano, e achei bem ok, mas não é meu gênero favorito. Acho um tanto passado, meio remexido demais, quase chutar-cachorro-morto. Pessoas virando zumbis, corrida contra o tempo, reversão do quadro, muito sangue, tensão na fuga e tals. Ok, mas passado (não de tempo, de coisa que passou do ponto).
Mas esse livrinho, petito, não muitas páginas, lido em praticamente um dia, entre idas e vindas no ônibus e um tempinho com o bumbum no sofá… é bom. BOM. Bom porque não é um livro sobre zumbis, sobre nossa interação com eles, sobre a morte da humanidade como um todo. Não. Esse livro de zumbis é sobre o homem. Sobre UM homem, sobre sua relação com o mundo, com a sociedade, com o que o cerca, mas especialmente com ele mesmo. E essa (e eu assino embaixo!) é das mais complicadas relações que temos, senão A MAIS complicada.
Verney é um estereótipo de gente “estranha”. Não muito ambicioso, até feliz (ou conformado, talvez?) com seu trabalho, tímido, meio avesso à sociedade parisiense de sua época. De repente, se vê como o único sobrevivente de um cataclismo, ao menos o único que consegue perceber em seu entorno. E agora? Sem ninguém olhando, sem ninguém para falar com você, como você vai viver? Se não tem o controle social, como você vai se comportar? Ainda mais longe: se não há outros seres humanos, PARA QUÊ você vai viver?
Eu não sei se aguentaria. A solidão, mais do que a solitude. A falta de referências, de anseios, só um dia após o outro. O que fazer? E como lidar com as coisas em nossa cabeça? Uma passagem me marcou MUITO, e está ainda ecoando em minha cabeça:
Precisei de um mês para compreender que os zumbis não são o perigo verdadeiro. Eu sou o meu inimigo. Os zumbis não podem transpor os três andares, não podem pôr a porta abaixo. Por outro lado, correm em minha consciência como se tivessem todas as chaves. Estão dentro de mim, e não há nada mais assustador que isso.
Bom, né? Vários significados, muitas interpretações. E o texto está recheado de pensamentos do tipo.
O que eu achei mais legal foi que em nenhum momento houve a discussão sobre “qual fator que desencadeou a crise”. Não foi discutido se foi um vírus, bactéria; se foi feito em laboratório; não teve tentativa de descobrir causas ou de reverter os efeitos. Nada. Tão diferente de tramas inteiras que se roem ao redor desse osso (já tão roído!).
Leitura recomendada, especialmente aos que desprezam a importância do autoconhecimento.
Obs. Pit Agarmen é o pseudônimo do autor Martin Page, conhecido pelo título “Como me tornei estúpido”.
[…] minha cabeça, é como se eu vivesse em um livro distópico. Me lembra o A Noite que devorou o mundo, sabe? Eu preciso ficar em casa e só sair para o básico porque a rua está cheia de zumbis que […]
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