Saindo um pouco do assunto habitual, mas totalmente dentro do assunto blog: eu estou aqui queimando a minha mufa, refletindo sobre essa situação levemente absurda em que me coloquei.
Eu comecei o blog porque queria escrever sobre os livros que leio, em algum lugar. E comecei o Instagram porque adoro o contato com o que os outros fazem, adoro compartilhar o que faço também, ler as opiniões e dividir experiências. Esses dias, fazendo o facebook do blog do marido eu fiquei com vontade de fazer um pro meu bloguinho também – detalhe: eu não tinha facebook (nem particular).
Hoje eu me senti um pouco atolada nisso. Eu estudei muito comportamento social, Capital Social e Capital Cultural, muito Bourdieu, muito McLuhan, e tenho ideias e sentimentos muito divergentes sobre exposição em mídias e necessidade de aprovação.
Sim, porque HÁ a necessidade de aprovação, certo? Queremos ser vistos, ouvidos, e acima de tudo, apreciados. Não é legal quando você chega a cem seguidores no instagram? Quando as pessoas te linkam porque sua foto/opinião influenciou em alguma coisa a vida delas? Quando alguém lê um post no seu blog, e comenta (coisa cada vez mais rara hoje em dia, né?), mesmo que seja com uma opinião divergente (se bem educada, claro)?
Ontem, quando eu estava em um café supercharmoso lendo meu livro, eu ia postar uma foto no instagram. Livros e café, juntos, sempre são apreciados (leia-se: recebem muitos coraçõezinhos). Então percebi que eu estava lá por causa de uma situação de bosta, presa na cidade por causa da manifestação no centro do RJ ontem (joga aí no google “Protesto reabertura da Alerj”, se você não viu o que foi), super mau-humorada, sem saco pra nada… e vou postar como se fosse uma coisa feliz, porque eu vou ganhar vários “joinhas”?? Não entendam mal, eu adoro essas mesmas fotos. Inclusive eu tenho que desinstalar (de novo) o Instagram do celular, porque eu clico naquele iconezinho, e quando vi, já se passaram duas horas.
Eu conheci muita gente legal pelo insta; diversas indicações de livros, especialmente pela #leiamulheres; adoro ver as comidas veganas lindas que as pessoas postam… Mas entram os dois problemas: passo parte do meu dia “vivendo a vida dos outros” através de suas fotos; e passo o dia colocando fotos minhas.
A outra questão que sempre pega nas redes é a reciprocidade. E nessa entra especialmente o Facebook. Se você tem uma rede social, você espera interagir. As pessoas esperam que você interaja. E eu, que fiz meu facebook faz uns 3 dias, já estou sem saco nenhum. Como falei no último post, é um pacote de informações amplo demais para absorver, e eu tenho dificuldades em separar o que é “importante” nesse bololô de coisas. Resultado: já pretendo sair novamente. No instagram é o tal “follow to follow”. Gentes, sério, qué é ésso?? As pessoas te seguem esperando serem seguidas de volta… mas você já me perguntou se o que você posta me interessa? Se suas fotos falam ao meu ❤ ? Ou simplesmente se eu quero? Eu não gosto de seguir as pessoas por seguir, gosto de interagir. Eu acompanho e escrevo nas fotos de todas as pessoas que eu sigo no instagram – aí se gosto só de uma foto ocasional, eu curto, mas não sigo.
Eu sou Old School demais? Eu tento criar vínculos onde eles não deviam existir? Os relacionamentos fast-food, onde cada um chega rápido, pede o que quer, e parte tão rápido quanto chegou? A ligação sutil de pessoas que não se importam? Eu passei anos sem facebook, e as pessoas simplesmente não sabem mais a data do meu aniversário pois não tem um aparelhinho que as lembre! Mas eu sei o aniversário da Barbrinha, e sempre mando um cartão para lembrar.
O digital demanda um tempo que não tenho, um imediatismo que não posso/consigo/quero suprir. Se demoro uma semana para entrar num canal do youtube eu já perdi dois vídeos, a pessoa já ficou irritada porque eu não assiti, e eu não tenho tempo de ver todos, de todos os amigos, retroativamente. E acabo que fico sem o tal “amigo”. Tem a reciprocidade até nos blogs! Eu sempre arrumo um tempinho para ler o dos colegas – gostava muito do do Joe, que depois de cinco anos, cansou dessa vida e foi ser feliz – ele me lê ainda, e ó: beijão prá tu! – mas pode demorar, eu tenho outros afazeres. E às vezes o que a outra pessoa escreve pode não ser bem o estilo que você gosta de ler. Mas cadê que a pessoa quer entender? Gentes, eu não obrigo nem o marido a ler o que eu escrevi, que dirá “terceiros”!
A internet facilitou a vida, nos aproxima de pessoas? Sim, eu que sei! Hoje eu passo a semana em um estado diferente do meu marido (marido esse que conheci na internet, inclusive!), e só o Skype salva (menos que a sopa – piada interna mode on). Mas eu preciso optar entre viver minha vida com telas all the time ou sem elas, e eu já tenho que viver com elas para trabalhar e estudar… no lazer eu tenho tentado muito ficar fora do digital.
Eu possivelmente vou eliminar o Facebook essa semana ainda. Vou tirar o Instagram do celular de novo (ele volta sorrateiramente, juro que não fui eu quem reinstalei!!), ele meio que consome todo o meu tempo útil (não, NÃO TENHO maturidade). Não tenho twitter, pinterest, e outras redes. Não uso centenas de aplicativos no celular (quanto menos aplicativos, menos pendurada nele, menos dependente dele), não jogo joguinhos virtuais, não consumo booktubers. Eu tive que aprender a priorizar, não tenho tempo pra tudo. Além do mais, eu sempre fui analógica (já leram os estudos sobre o cérebro de um analógico e o cérebro de um “digital”, a forma como absorve informações, as transforma em conhecimentos, e etc? é muito interessante, você devia procurar), lápis e papel, contato pessoal.
Escrevi isso tudo porque eu tenho medo do meu isolamento.
Tenho medo da exclusão social no trabalho (a única presença digital que tenho hoje é o Lattes – currículo para pesquisadores brasileiros na internet), das pessoas que marcam as coisas no facebook e eu fico de fora (porque não tenho), que comentam da piada que viram no Twitter (que eu também não tenho), de não ver alguma oportunidade, de ficar pra trás.
Tenho medo de ficar uma velhinha sozinha, pois eu não consigo me ater aos relacionamentos digitais. É óbvio que há os aprofundamentos (a Barbrinha eu conheci pelo blog <3), há aqueles que te chamam para um café, que viajam para te desvirtualizar, e nesses eu tenho interesse. As pessoas reclamam por você não estar on, mas também não vão te procurar. Se você não curte alguma coisa delas, elas se irritam. Se eu entro no blog apenas para escrever, e não entro no de outras pessoas para lerem o que elas tem a dizer, elas ficam putas comigo. É muito difícil.
Na verdade, eu gosto do meu mundo analógico. Estou cada vez mais inclinada a me retirar nele, nas plantinhas que quero plantar, no espaço que quero montar para receber meus (pouquíssimos) amigos, nos livros que quero ler (sem precisar postar fotos de todos eles no instagram), na faculdade que vou começar, em namorar meu marido, em ver um filme sem ter que correr para a internet para gritar “JÁ VI!!!”. Sem desesperar porque esqueceu o telefone em casa. Meu sonho hoje é assistir a um show sem uma cortina de celulares na minha frente tentando gravar o palco (as gravações ficam todas MERDAS e ninguém aproveita a porcaria do show!). E restringir o uso de tecnologia ao trabalho, em geral. Pode me chamar de retrógrada, especialmente se você consegue viver bem sua vida com tudo isso aí que eu falei. Mas EU não quero viver minha vida acordada atrás de retângulos luminosos. Acho que sou da última das gerações que vai lembrar o que é viver sem ter tido um celular na infância (minha sobrinha não faz IDEIA do que é isso).
Você não precisa dividir um espaço em uma plataforma com dois bilhões de pessoas… você pode mandar um e-mail, compartilhar um álbum no Onedrive, marcar um cinema, mandar uma carta, trocar livros. Passar menos tempo tirando fotos e mais curtindo os momentos (fotos que a gente nem fica olhando depois, sejamos sinceros), menos tempo olhando fotos de livros e mais LENDO os livros. Mais tempo cozinhando ao invés de olhando fotos de comidas e separando receitas que nunca serão testadas.
Então não se espante se eu demorar para te responder por alguma dessas mídias. E lembre que eu vejo meu e-mail todo dia, é só catar ali no “sobre” (preciso de uma página de contato com urgência 😛 ). Também posso te passar meu endereço para mandarmos carta. Ou você pode marcar um café comigo. Toda as opções são válidas 😀
Bjo, Paulla!!! \0/
Realmente, a internet é uma ferramenta ótima, mas é muito fácil se perder nesse turbilhão de informação e acabar esquecendo o que realmente importa. E infelizmente, as pessoas se preocupam muito mais em registrar um momento para compartilhar nas redes sociais, do que de fato vivenciá-lo.
P.S.: Adoro seus textos que relatam sobre seus pensamentos e vivencias com o blog e a internet.
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Oie! Gostei muito do post! Muito válido para os dias atuais.
Estou tentando me desgrudar dessas tecnologias também 🙂
sempre passo por aqui mas acabo não comentando…
bjs ♥
Hey! Consegui emprego de auxiliar de biblio em uma faculdade =)
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Yey! Parabéns!! Muito bom, Ana, fico feliz! Depois me mandar pelo whats qual é a felizarda que te contratou ❤
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