Título: Formas de voltar pra casa (Formas de volver a casa)
Autor: Alejandro Zambra
Editora: Cosac Naify
Páginas: 160 p.
Ano: 2014 (1.ed. 2011)
Formato da leitura: Livro digital
Sinopse: Terceiro romance de Alejandro Zambra no Brasil, Formas de voltar para casa narra as memórias – ouvidas e vivenciadas – de um homem cuja infância se passou durante a ditadura de Augusto Pinochet, no Chile. A narrativa se desdobra em dois momentos: o passado – começo dos anos 80 –, que o protagonista tenta recuperar para, então, finalizar um livro que ele está escrevendo no presente. Na busca por entender acontecimentos nebulosos, ele percorre um melancólico e dolorido caminho de volta na tentativa de escrever a própria história. Formas de voltar para casa recebeu o Prêmio Altazor e o Prêmio do Conselho Nacional do Livro como melhor romance de 2012 em seu país.
Opinião: Lembro de ter visto esse livro em alguns Instagrams no ano passado, e sempre com elogios. Que a leitura é rápida, e boa, que dá pra ler o livro “em uma sentada”, e que o autor escreve muito bem. Coloquei o dito-cujo na minha lista 2017, e incluí logo no kindle, para não esquecer (tenho a mania de esquecer quais foram os livros que decidi que queria muito ler, no meio de um maaaar de outros livros que quero muito ler).
Aproveitando um “molho” no aeroporto (tinha esperança de adiantar o vôo, e não rolou…), pensei: “é agora! Veremos se dá pra ler todo de uma vez! Vou ler esse maravilhoso livro sobre… o quê mesmo, hein?” Então me toquei que não havia lido a sinopse. Que não fazia ideia do que o livro tratava. Que pelo título e tamanho, imaginei ser um livrinho de contos/crônicas, como o Nu, de botas, por exemplo. Pra você ver o quanto a opinião alheia às vezes te influencia, e você nem percebe… Mas, te dizer: foi legal ler um livro sobre o qual eu não sabia nada, pela primeira vez em muito tempo.
O livro é dividido essencialmente em três partes. Zambra começa descrevendo uma cena de infância, como um menino efetivamente a vê; com todas as situações que ele não entendia, as “aventuras” e problemas pela ótica de alguém de 9 anos. Aqui conhecemos a Cláudia, a Magali, sabemos sobre a primeira menina que conversa com ele, e sobre a vida com seus pais no Chile de 197*.
Na segunda parte do livro, já adulto, ele descreve sua vida na adolescência, quando percebeu que o país vivia uma ditadura, e o quanto seus pais se mantiveram à margem de todos os acontecimentos. Também lemos como está sua vida hoje, adulto, sua separação recente, a relação com a família.
A terceira parte é a mais interessante. É quando todas as situações se unem, e em um reencontro com a Cláudia, da infância (muitas vezes ele achou que havia imaginado a situação e a pessoa), ele monta o quebra-cabeças com as situações que nunca havia entendido. E é aí que o véu das inocências infantis é retirado, que percebemos o quanto uma pessoinha de 9 anos consegue ficar de fora de uma situação política tão grava quanto foi a ditadura chilena – ao mesmo tempo em que alguém quase da mesma idade, mas diretamente atingido, pode ter sequelas e marcas que definem o resto de sua vida.
O livro me trouxe (novamente) o interesse pela história da América Latina. Do colégio, lembro bem de alguma coisa da história dos EUA, muito da história antiga da Europa (Idade Média, renascimento, iluminismo, tudo que estudamos MUITO). Mas me diga você: o que você lembra da história da América do Sul? Lembramos dos jacobinos e dos proletários da revolução russa, mas quem foram os heróis nacionais das independências latinas? Quais foram as guerras aqui travadas? O que são as Guianas? Não sabemos nada dos nossos vizinhos, mas sabemos tanto sobre as nações dominantes, né?
Zambra me recordou o quão rica e importante é a história dos nossos companheiros continentais, e só por isso o livro já vale. Mas supera, e sua escrita é realmente formidável.
Por sinal, consegui ler em uma sentada mesmo. Uma sentada de três horas, mas ainda assim, uma só! Rsrs!